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Candidatos sem luz própria


Sei que ninguém tem paciência para ficar na frente da TV e assistir o horário eleitoral, não com postura crítica, mas para desopilar o fígado. Afinal rir é o melhor remédio em época de pandemia. Em toda a minha vida pública sempre defendi que cidadão na acepção do termo é todo aquele que possa participar da vida do país, do estado ou do município e que tenha o peso de ser alfabetizado e íntegro . Não apenas que saiba ler “o vovô viu a uva”, “ a menina brinca de boneca”, “o menino é mau” -, não, deve no mínimo saber ler um livro de bom conteúdo e interpretá-lo, bem como, saber que vivemos em um planeta chamado terra e que Curitiba é uma cidade. Meu Deus, cada eleição que se aproxima a qualificação dos candidatos à cargos eletivos desmorona, tem uns que nem sabem ao certo que apito irão tocar na orquestra se por acaso forem eleitos. No segundo debate pela TV para o cargo de Prefeito Municipal participou um rapaz, portando um distintivo na lapela de seu paletó onde dava para ler em letras garrafais: “Fora Bolsonaro”. Tudo bem pois cada um tem o livre arbítrio de mostrar o que quiser, inclusive o de propagandear sua aversão ao Presidente. Só que ele não respondeu nenhuma pergunta que lhe faziam acerca de suas propostas para a cidade de Curitiba, respondia sempre a mesma coisa:
– A classe trabalhadora precisa reagir contra a violência fascista da Polícia Militar e lutar para o retorno do Lula no Poder!
E de minimamente razoável não acrescentou absolutamente nada no esperado debate. Outro (ou outra) candidato (a) defendia as minorias a ponto de afirmar que a pandemia quando atingia apenas os ricos o governo logo impôs o isolamento social, porém quando ela chegou nos bairros pobres o isolamento deixou de existir.
Confesso que não entendi se havia ou não lógica nesse desabafo. E os outros candidatos mais lúcidos e intelectualmente mais qualificados ficavam constrangidos de perguntar aos debatedores semi-analfabetos e sem graça para responder as perguntas sem nexo que estes lhes faziam. Foi um bom programa de tragicomédia, pena que a finalidade não era para brincadeira e sim para os telespectadores conhecerem as propostas dos candidatos a fim de optar por um deles na hora de votar. E o pior : o atual Prefeito não querendo discutir a sua gestão procurou se esconder atrás do vírus do Covid-19, subtraindo de seus principais adversários a oportunidade de contestar toda a propaganda feita e a maquiagem bem elaborada nas partes nobres da cidade. Fugir dos problemas é fácil, difícil é participar do debate e defender sua administração. E tudo isto sem falar naquelas criaturas que concorrem aos cargos de vereadores, muitas delas pessoas simples e que participam dos partidos políticos como bois de piranha porque sabem que não vão chegar a lugar nenhum , mas se prestam apenas para contribuir para a somatória final de votos. Dentre estes muitos funcionários públicos que gostam de ficar afastados do serviço nas épocas das campanhas políticas. Tem um destes futuros vereadores que se eleito vai lutar pela isonomia de subsídios dos edis com os de Ministros do STF. Um outro quer uma segunda linha de ônibus de turismo para fomentar a vinda de visitantes para a cidade. Uma candidata que é professora Municipal quer quadruplicar o salário de toda classe e equipar as escolas com tecnologia de ponta. Só que ninguém diz como aumentar a arrecadação municipal. Gastar e sonhar gastar é fácil no palanque político o problema surge quando o indivíduo é eleito tem a obrigação de conhecer o orçamento público e fiscalizar os gastos do erário. Na campanha até os mais inteligentes zombam da boa fé dos eleitores com promessas que não poderão cumprir. E o gerenciamento de uma cidade exige um prefeito preparado, muito bem assessorado e que saiba controlar as finanças com indispensável equilíbrio e bom senso. E o município necessita de vereadores esclarecidos que saibam de cor e salteado as suas reais atribuições. Pois as cidades tem problemas contínuos e alguns insolúveis como o crescimento democrático, dependente de uma política nacional que busque solucionar a proliferação de filhos de pais irresponsáveis e minorar a situação de pobreza das famílias que vivem nas periferias. Mas estes temas são tabus no âmbito político onde os candidatos preferem explorar a pouca cultura do eleitor vendendo utopias e sonhos mirabolantes. O Parlamento Nacional tem que criar leis que atendam a realidade do país e exigir escolaridade média para os futuros candidatos a cargos eletivos, não que vá resolver em definitivo uma melhor performance dos mesmos, porque caráter não se institui por Lei ..
“O cenário político é sabidamente caótico no pais; e o pior é que no momento de renovar surgem candidatos sem a mínima qualificação pessoal. Culpa dos partidos políticos, das Leis Eleitorais e de um país culturalmente medíocre que permite indivíduos perniciosos à Nação espargir ideias retrógradas e obtusas a um povo analfabeto. Sem cultura o Brasil derrapará na mesmice.”
Texto: Edson Vidal Pinto
Publicado na página A Crônica do Dia, no Facebook, em 17/10/2020.